sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Passados VI

Silêncios

20 de Agosto de 2010




Hoje, recuso-me a escrever sobre outra coisa qualquer que não seja o teu silêncio.

Porque nas horas, e são tantas, em que te penso, posso imaginar a formação dos vocábulos nos teus lábios, a projecção dos fonemas. Recrio a tua voz, sussurrando nos meus ouvidos, dulcificando as palavras.

Sinto o silencioso toque da tua mão, os lábios semicerrados que tímidos se entregam, a tranquila planície da tua pele.

E escuto. Escuto a minha tristeza, a angústia e a ansiedade que tu consegues afastar, como se uma mão divina (e só para isso existiria deus) desfizesse as nuvens que um dia espalhou no infinito.

Mas, sobretudo, escuto os momentos de alegria, a felicidade. 

Em silêncio. 

No entanto, agora, é de outro silêncio que falo, aquele que tem o ruído e o som da dor. Daquela dor que corta, que tinge, que desfaz.

Aquela dor de passear junto ao mar sem ouvir a areia a queixar-se debaixo dos nossos pés descalços, aquela dor de ver as ondas rebentando mudas. Aquela dor de ver gaivotas cruzando o céu enegrecido e não nos ser concedido o poder de voar.

Recuso-me a escrever sobre outra coisa qualquer que não seja o teu silêncio.

Porque me habituei à tua viva presença e companhia noutros silêncios.

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