domingo, 22 de fevereiro de 2015

Inesperados


I.

Secretamente esperamos o inesperado. Um contra-senso. Um absurdo.
É nesta contradição que nos revemos.
Mas eu não te esperei. E assim inesperada pulaste de um lado para o outro dentro de mim.


II.

Deixa-me ver as marcas da tua dor...
Passar suavemente a ponta dos meus dedos, quem sabe a língua, pelas cicatrizes na tua pele.
Dores e marcas todos temos. Mas nem todos temos as mãos que as acolhem.
Ri-te. 
O teu sorriso deixa prenhe o dia que concebe a noite ideal para te amar.


III.

Sendo assim, visito as árvores, lá no topo 
onde o sol é mais forte e luminoso.
Há uma brisa que passa pelos ramos, 
água num regato das alturas.
Nesse rumor de água e vento, juntam-se vozes que não conheço.
Talvez sejas tu o tronco por onde subi,
onde arranhei os meus braços,
lugar onde confundi o meu sangue na tua seiva.
Há fruto a nascer em mim. Há flor a fecundar em ti.
E fico quietinho à espera do sabor do teu corpo.


IV.

Olhar para ti. Como se te conhecesse sem nunca ter conhecido.
Os dedos desajeitados no toque do cabelo macio.
Desconfiado da ternura que te cobre como agasalho
e a mim torna em recordação o agreste inverno.
Falaste e disseste
- “abraço peito com peito, daqueles em que se dá parte do coração” -
Sorri, como penso que querias que eu tivesse sorrido.
Miríades de luminosas e transcendentes estrelas emudecem
enquanto passa de ti para mim lentamente
e recebo a parte que me dás.




Sem comentários: