sexta-feira, 6 de março de 2015

Segredos





Pensei, existem segredos nas coisas.
Segredos que não residem na explicação subatómica da matéria, em simples reacções químicas ou biológicas, em complicada física quântica, arquitectura estelar ou na fé mais pura e sempre ignorante.
As árvores estavam ali, imóveis e majestosas, talvez há centenas de anos e, mesmo assim, desconheciam tão rudemente esses mistérios como eu.
Ao passar, agitaram as suas raízes, no que me pareceu uma tentativa fracassada de se moverem ou contestarem, e clamaram - Olha bem para nós que aqui estamos eternizando a morte e, no entanto, tu envelheces, com a vantagem de poder manter imberbe o riso na memória! -
- Reparem - disse-lhes, - que vantagem é poder recordar o tempo que passa, o espaço entre cada segundo, esse momento mágico que compõe o tudo e o nada? - (Recordar que hoje, novamente, dei pela tua falta nas nuvens não é vantagem e há dias que são compostos unicamente por sentir a tua falta).
Foi então que uma das árvores mais pequenas lançou os ramos na minha direcção, alcançando-me, e me abraçou suavemente.
Pareceu-me ouvir o teu nome sussurrado pelo vento a ziguezaguear pelas folhas.
Olhei para o céu por entre a folhagem. 
Continuavas a faltar nas nuvens.
Mas descobri que não podias estar mais perto do que estavas naquele momento estando dentro de mim.  

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