terça-feira, 3 de março de 2015

Não escrevo, és tu que escreves em mim..

As minhas mãos pairam inconscientes, nuvem sobre o teclado.
Esperam por ti.
Não sei se quereriam esperar por ti assim ou de outra maneira, mais suave, 
tacteando a tua pele. Mas é uma questão de oportunidade. 
Certo é que não só elas, mas todo eu, nos tornámos um veículo teu, 
incapaz de dominar qualquer acto volitivo, físico ou criativo.
Possuído, de repente, movimentam-se rápido.
Sou tomado pelas imagens que perpassam por mim, os sons e o coração 
recrudescem, cada vez mais fortes.
Não sou eu, é o prenúncio da tua invasão. 
Não me lembro de ter resistido. Não sei se quereria ter oposto alguma resistência 
ou opor, um dia.
Fico quietinho num canto a assistir às descargas, os neurónios e as suas sinapses 
revolteando, a observar a génese da vida enquanto me tomas para ti, 
espectador incapaz de mudar o curso dos acontecimentos.
Sou surpreendido e desconheço o que as minhas mãos escrevem, corro o risco 
de ser dado como inimputável enquanto cruzo estas fronteiras entre nós.
Considerem-me justificado.
Porque há um processo que levas a cabo sem eu querer e que me apraz.
Ter-te assim, sem pedires licença.
Seja o que for que escrevo és tu que escreves em mim.

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