sexta-feira, 17 de outubro de 2014

There is no rest for the wicked...







sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Passados VI

Silêncios

20 de Agosto de 2010




Hoje, recuso-me a escrever sobre outra coisa qualquer que não seja o teu silêncio.

Porque nas horas, e são tantas, em que te penso, posso imaginar a formação dos vocábulos nos teus lábios, a projecção dos fonemas. Recrio a tua voz, sussurrando nos meus ouvidos, dulcificando as palavras.

Sinto o silencioso toque da tua mão, os lábios semicerrados que tímidos se entregam, a tranquila planície da tua pele.

E escuto. Escuto a minha tristeza, a angústia e a ansiedade que tu consegues afastar, como se uma mão divina (e só para isso existiria deus) desfizesse as nuvens que um dia espalhou no infinito.

Mas, sobretudo, escuto os momentos de alegria, a felicidade. 

Em silêncio. 

No entanto, agora, é de outro silêncio que falo, aquele que tem o ruído e o som da dor. Daquela dor que corta, que tinge, que desfaz.

Aquela dor de passear junto ao mar sem ouvir a areia a queixar-se debaixo dos nossos pés descalços, aquela dor de ver as ondas rebentando mudas. Aquela dor de ver gaivotas cruzando o céu enegrecido e não nos ser concedido o poder de voar.

Recuso-me a escrever sobre outra coisa qualquer que não seja o teu silêncio.

Porque me habituei à tua viva presença e companhia noutros silêncios.

Se não soubesse





Se não soubesse nadar, 
nadava. 
Se não soubesse cantar, 
cantava. 
Se não soubesse morrer, 
morria.
Se não soubesse sonhar, 
do outro lado do tempo, sonhava-te.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Passados V


Não sou ninguém

Setembro de 2010


Não sou ninguém
para além daquilo que lês!
Podia bem não existir
ou existir noutra forma
talvez
quem sabe translúcida e errante
partir e regressar
viajante
uma e outra vez.

Não sou ninguém
para além daquilo que crês!
Existo apenas a espaços
em espelhos 
já demasiado baços
quem sabe pelo sobressalto das marés
de quem voa contra o vento
contra a vida
e de través.

Não sou ninguém!!
Apenas imaginação
num hiato obscuro da criação.
Não vês?!