Há linhas paralelas na noite
Tracejadas
Geometria variável que desenho e pinto
(aguarela salgada e fria)
Na tela imaginária que trago guardada
Por dentro das paredes que me olham
Incrédulas dos tijolos e cimento
Que as consomem
Com ar de quem se esqueceu
Momentaneamente da tristeza
Na escuridão do seu indeterminável destino.
Eu como um deus determinando
Se não for antes
Que as linhas que traço com dedos invisíveis
Se encontrem e se amem por fim no infinito.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
Destinos paralelos
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
Sangue e lágrimas
Há cortinas e portas fechadas
e o som de gente desesperada que bate
arranha, luta.
Sou eu.
Do outro lado, risos tênues de quem ri sem vontade.
Promessas de futuros, palavras.
E sangro das mãos disformes.
Sem a força das lágrimas que descem das janelas.
Parecem lágrimas, têm tudo para ser lágrimas.
Podem muito bem ser lágrimas.
Ninguém se importa.
Nem do outro lado da porta nem os espectros que me circundam.
Riam-se! Alegrem-se! Regozijem-se em festas intermináveis!
Por que eu, só, finito e com a transitoriedade terrena, por um desses futuros faria tudo.
Até que a morte me chamasse.
Tudo. Menos vender a minha alma.
Silêncio
Que rompe as nossas mãos
Com um som metálico
Que já tínhamos esquecido
Há uma morte dolorosa na calma doente
Que nos adormece na vigília do medo
Depois, depois há o líquido desejo nas fragas
Por onde em meandros se esvai a loucura
E eu, por aqui onde me encontram
Esperando as últimas palavras
Decisões
É verdade, quando o querer, o gostar e o que "desejamos poder ser" não se conjugam. Não basta gostar. Tem de se querer, o suficiente para poder ser.
Tomar decisões pode ser doloroso, muitas vezes é. Mas a vida ensina-nos que temos de as tomar, mesmo quando lutamos para não o fazer.
E daquelas máximas facebookeanas tão populares como verdadeiras é a de não colocar em primeiro lugar quem não nos coloca em primeiro lugar. Porque a vida, apesar da ginástica que somos forçados a fazer, não é uma disciplina olímpica... dela ninguém sai vivo e não há "segundos lugares".
Alguém disse que tomar as decisões certas não é doloroso? Mesmo quando o sol se refracta na água límpida...
Portanto, não se esqueçam nunca de tomar as decisões certas. Custe o que custar. Doa o que doer.
Dizia King Lizzard que "daqui ninguém sai vivo". Por isso devemos colocar em primeiro quem nos coloca em primeiro e não dar importância a quem só nos oferece prata ou bronze. Mesmo que doa, mesmo que custe.
Daqui ninguém sai vivo. Aliás, enquanto não houver colónias na lua ou marte, daqui ninguém sai...
Esperei
Que a noite não existisse
E os dias voltassem no tempo
Maré e encanto
Nascendo de um nada
Flutuando docemente nos teus dedos
Esperei
Como se a distância fosse vento
Aroma leve e doce
Do fluído translúcido momento
Que nos traria segura e lentamente
Ao lugar certo
Esperei
Poema quase infantil
Que voava no vento
- vento, porque me tratas assim?
Assobiando, rodando
Levando-a mais alto ainda
Responde-lhe zunindo o vento
- se te largar e esquecer
Nem que seja um momento
Cais, secas, morres por fim
Mas no meu sopro e abraço
Rodopiando comigo no espaço
És livre, nunca te esqueço
Amo-te, vives
Danças para mim...
domingo, 28 de agosto de 2016
Apenas
O meu nome é não ser nome.
Não existir boca que me chame ou pronuncie.
Não ser lado nenhum no espaço trêmulo em vibração permanente das mãos.
Criar o vazio sem peso gélido na memória.
Encontrar-me onde nada me encontre.
Apenas.
Deserto surdo
Procuro o deserto nos meus olhos.
Combinam com as ruas desertas palmilhadas em rumos cegos e sufocados.
Supostamente perdidos, eu e os fantasmas que guiam os passos pesados e incertos do que foi o que não chegou a ser.
Apenas névoa que trespassa o sonho.
Sôfrego demoro-me ouvindo o som cavo da água que desliza na minha pele.
Qualquer som é bem-vindo nesta surdez disfarçada.
terça-feira, 3 de maio de 2016
REQUIEM
Há lâminas onde nasceram flores debruadas nos penhascos à beira-inferno.
E é doce o encanto de voar até ao fundo de lábios salgados sem saber quem sou.
Talvez amanhã sonhe o fim do holocausto em que vos sacrifico e à minha hipocrisia.
Talvez amanhã acorde e seja eu.
segunda-feira, 2 de maio de 2016
Rumo ao infinito
Não se orienta pelas estrelas num céu negro de perdões.
Vai saltitando calmamente na tempestade amparado pelos teus braços como trepadeiras na noite.
A confiança que deposita nos teus olhos sossega o desconhecimento que tem do rumo e do horizonte no final da história. Nunca conheceu um tempo assim de calmaria no meio de ventos gigantes e vagas colossais.
Um mar que enfrenta confiante. É teu o leme, a bússola e o compasso nesta dança. O teu sorriso traça o mapa.
Rumo ao infinito.