quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Pela metade

Há quem viva contente
Pela metade levando a vida
Como um catavento
Rodando, doendo.
Eu não e me mantenho
A metade de fora procurando
A metade de dentro
Só a pele me divide, 
Dividido que fui,
E é toda a minha fronteira neste intento.
Enquanto não juntar estas metades
Tornando uno, perfeito e livre
O meu corpo e pensamento
Continuarei pela metade
Incompleto
A morrer por aqui e por ali,
Longe de ti, perto de mim,
Tanto por fora como por dentro.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Waiting

Há coisas feitas do mais fino cristal.
Depois de quebradas não podem mais ser recuperadas.
E vigiamos a noite, os sonhos, os dias, as estradas e os montes, vigiamos o passado, o presente o futuro.
E nessa vigília estrénua mas cansada assomam manhãs de cinza que nos lembram tudo o que queremos esquecer.

A dor perene de perder.



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Procrastinado

Se alguma coisa posso dizer da minha vida, assim a jeito de epitáfio ou elegia fúnebre, é que ela nunca foi uma vida monótona.
Repleta de momentos, felizes/tristes, bons/maus, como se algo existisse que não deixasse nenhum deles prolongar-se e correr o perigo de profanar esta sensação de insatisfação permanente.
A minha epifania é essa, a revelação de que há pessoas que nasceram para não ser felizes, outras para o ser e, depois, há aqueles, indefinidos como eu, que vivem entre esses dois mundos, viajando sem rumo incessantemente, sem tempo para desfazer as malas ou chamar qualquer coisa de seu.
Vivi tudo o que tinha a viver e a vida acabou por me mostrar tudo o que tinha para me dar. E é, ou foi, muito pouco.
A volatilidade da existência, dos sentimentos e das palavras faz parte de nós que nascemos condicionados ao espartilho do corpo que se degrada e de um espírito que, demasiadas vezes, não se consegue libertar.
Não vale a pena perder tempo. Cada minuto conta. E eu, infelizmente, procrastinei, sem querer, os meus dias.
Considero-me um ser humano adiado. Uma vida que poderia ter sido e não foi.
Pensei de mais e agi de menos. Afastei aqueles que me amavam, sempre de olhos postos num amor impossível que ninguém teve a capacidade de entender ou de me dar, achando que merecia mais do que realmente mereci.
E o pior é que não há botão de stop/rewind nesta vida. Nem salvação.

Apenas as memórias que nos atormentam e nos matam lentamente.


De memórias somos feitos. Lembremos, então, As Tears Go By, original de 1964 dos The Rolling Stones (tinha eu 8 anos!!), celebrizado na voz de Marianne Faithfull e dos próprios Stones em 1965.
Ao mesmo tempo uma versão mais actual na voz de Franco Battiato e Antony Hegarty.
Só para ser um som diferente. Fiquem bem... and have a nice week!






quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

À flor da pele

Na flor da tua pele descobri inscrições primevas que decifrei com a ponta dos meus dedos.
Falavam de histórias antigas, segredos de deuses sem cara, desaparecidos na névoa dos teus lábios em derradeiras batalhas pelo paraíso.
Na flor da tua pele descobri sementes por plantar, à espera do calor que transportei no amanhecer da descoberta e de poderem florescer na seiva dos nossos corpos.
Na flor da tua pele descobri o veneno que me assombrou e enlouqueceu.
Os segredos eram mais do que tu, eram a vida e a origem de tudo, as tormentas e o paraíso adivinhado.
E eu, como um recém-nascido, aprendi a respirar, a caminhar, ao som das pétalas sussurradas no teu peito.
Hoje espero apenas ter de volta os olhos que perdi do outro lado do espelho que um dia me reflectiu e que eles me levem suavemente até aos dedos que possam decifrar as lendas que eu próprio carrego e jazem desenhadas à flor da minha pele.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

É isso, pois então!

O amor é ou não é. Sabe-se de repente. Com sonhos e ilusões. Com dor e prazer. Apaixonamo-nos e pronto. Não há explicações, certezas ou meias-verdades. Não há sensatez ou ponderação. Não se descobre com o tempo. O "afinal é de ti que gosto" não existe. Não é nem nunca foi verdadeiro amor. Talvez conforto. E conforto não é amor. O amor não escolhe o melhor para nós. O amor "é" o melhor para nós.
Viver algo menor que o "amor" é resignarmo-nos ao menos mau. É ser suburbano no sentir. E cada vez há mais pessoas que não conseguem pensar ou viver fora dos parâmetros do seu suburbanismo , inclusive dos sentidos, ainda que citadinos. É a sua versão de amor em estilo hip-hop.
Quando se ama não se sente culpa por amar! Ao fim ao cabo é tudo uma questão de coragem e honestidade. Para nós próprios e para os outros.
Quem viveu um grande amor, daqueles que inspiraram músicos, poetas, pintores, daqueles que nos fazem chorar por nada e rir  por coisa nenhuma, sabe do que falo. Lamechices - dirão os mais inconformados, os tais suburbanos, por serem incapazes de sentir.
Dramático - dirão outros.
Simples, directo, natural e preciso - digo eu. Como tem de ser. Mesmo com choro e ranger de dentes. Doa a quem doer...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Politicamente incorrecto

Há uma estranha mania neste mundo de exagerar em tudo. Mesmo sem conhecer, exageramos. Por nos terem dito que sim, que foi assim, ou é assim. E exageramos.
Ludibriamos a lucidez, a sensatez, não passamos de "maria vai com as outras". Se todos apontam numa direcção, nós apontamos também e, se pudermos, queremos ser os primeiros a seguir o caminho que desconhecemos. Que, aliás, a maioria dos que ingenuamente apontaram também parecem desconhecer.
Perdemos a noção das proporções, dos valores, do equilíbrio.
Quando é que nos tornámos assim? Quando é que nasceu esta febre de nos manifestarmos em rebanho? Esta mania de sermos "politicamente correctos"?
Eu manifesto apenas a minha loucura. Mesmo que politicamente incorrecto.