quarta-feira, 4 de junho de 2014

Passados IV


No tempo em que as nossas almas não tinham forma

12 DE SETEMBRO DE 2009



No início dos tempos, ainda a terra era apenas um projecto nas mãos de deuses desconhecidos e sem nome, as nossas almas não tinham forma.
Vogavam ao sabor daquilo que um dia se veio a chamar brisa, num imenso vazio azul (embora a noção de azul não existisse ainda).Não existia princípio nem fim, e éramos apenas sentir e sentimento.
Não havia dor, partida, separação... não havia tristeza.
E estávamos certos que seria assim para sempre, juntos e completos.
Não queríamos que fosse diferente.
Mas à nossa volta os mundos formavam-se.
De início massas indistintas em ebulição, vapores, trovões, raios...
Tudo demasiado distante para nós que nem sequer sabíamos o que era "preocupação".
De repente, tomámos consciência da vida. Tomámos consciência um do outro.
Foi nessa altura que fomos postos à prova.
Saberíamos experimentar essa coisa nova chamada "vida" sem nos perdermos?
Saberíamos reconhecer-nos mesmo depois de separados?
Seria essa força que nos juntou suficientemente forte para nos voltar a unir?
Foi nesse tempo que aprendemos o que era o verde que pintava as montanhas, aprendemos o que era o azul líquido do mar.
E como quem vai a um baile de máscaras, vestimos a nossa alma.
Tu mulher, eu homem.
Cada um de nós, parte do que sempre fomos juntos.
E partimos. Em direcções diferentes, jurando e prometendo que o que nos unia era mais eterno do que todo o tempo finito que estivéssemos perdidos um do outro.
Jurando e prometendo que nos voltaríamos a encontrar, porque era esse o destino, como dois ímans que se atraem...
Inventámos o amor.
E foi assim, com a separação, que a vida começou.

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