terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Túmulo ao poeta desconhecido

Lamento.
Todas as horas, dias e semanas.
Lamento o ar e o vento, o mar e as ondas,
O céu e o sol, a terra e o magma.
Lamento o voo das aves, o rastejar dos répteis, 
A neve e a montanha, as mãos e o corpo,
O amor e a indiferença.
Lamento o nascimento e a morte,
As multidões e o vazio.
Lamento o respirar, os pulmões negros de fumo,
A boca e os lábios.
Lamento o próprio lamento.
Porque é o ar e o vento, o mar e as ondas, 
O céu e o sol, a terra e o magma, 
As aves que se arrastam e o répteis que voam,
A neve que gela a montanha, as mãos e o corpo,
Que nos abraçam de lábios e boca,
Suaves e doces.
Quando deixas de escrever,
Quando um poeta morre, 
Para onde vai a poesia? 

1 comentário:

Ana Carvalho disse...

Para onde vai a poesia? A poesia não vai, ela fica dentro do peito, gravada na lápide do sentir. fica no cheiro afrodisíaco do ar. fica no olhar perdido do poeta, fica no restinho do vinho que ficou na taça, o poema mora em uma frase não dita.